Quando nascemos uma das primeiras sensações de desconforto que
experimentamos é a fome, já que dentro do útero éramos alimentados
constantemente através do cordão umbilical e a sensação de fome não existia.
Quando o bebê é alimentado ele experimenta uma sensação de alívio
e conforto, não só porque sua fome está sendo saciada, mas porque a amamentação
também traz o calor do vínculo com a mãe.
Por isso, tendemos a associar desamparo, dor, solidão e tristeza com
a fome e bem estar, prazer, conforto e aconchego com a sensação de estômago
cheio. Essas experiências estão relacionadas na nossa memória desde muito cedo.
Discriminar as sensações emocionais das fisiológicas é
consequência de um aprendizado, são os adultos que vão ajudando a criança a
diferenciar o desconforto que está no corpo daquele que está na alma.
Normalmente é a mãe quem começa a traduzir para a criança os seus desconfortos,
transformando-os em palavras.
Quando não aprendemos a traduzir nossas emoções, podemos confundir
as sensações físicas com as emocionais e qualquer emoção pode ser interpretada
como fome.
A compulsão alimentar é um sinal de que estamos comendo no momento
errado, tentando lidar com algum desconforto que não vem do estômago. Acabamos
comendo demais porque comer desvia a nossa atenção de alguma sensação
desagradável. A comida traz um conforto momentâneo, mas como não resolve o
problema, precisamos de mais comida para nos distrair do desconforto original.
Portanto, aprender a discriminar sensações corporais das
emocionais é o primeiro passo no processo de emagrecimento.
Você já tentou dar nome para as suas sensações? Pare por alguns
momentos quando se sentir desconfortável e tente nomear o que sente. Esse é um
exercício simples que traz muitos resultados.
O comer demais permanece na nossa vida pois, nos traz
consequências positivas. A comida nos acalma pois contém em si componentes
químicos que aumentam a sensação de bem estar. Ficar de estômago cheio relaxa
já que o corpo precisa de muita energia para realizar a digestão. O prazer
proporcionado por alguns alimentos, principalmente aqueles que derretem na
boca, também nos ajudam a desfocar de sensações desagradáveis. Por isso,
o segundo passo do tratamento para emagrecer é aprender a lidar
com nossas sensações. Criar formas de nos confortar sem utilizar a comida é
fundamental. Se isso não acontece a restrição alimentar acaba sendo
insuportável.
Você já tentou suportar um desconforto? Da próxima vez que se
sentir desconfortável, nomeie essa sensação e pare para suportá-la. Tenha
coragem de se entregar ao sentimento. Deite na cama ou se recoste na cadeira e
apenas sinta o seu corpo: onde a sensação se localiza, como ela se movimenta,
com o que ela se parece, te lembra alguma situação? Através desse exercício
normalmente aprendemos que entrar em contato com ansiedade, frustração, raiva e
agitação não nos destrói, pelo contrário, nos torna mais resistentes.
O desenvolvimento psicológico é essencial
no tratamento da Obesidade. Só quando aprendemos a lidar com as nossas emoções
podemos deixar de usar a comida para suportar os nossos sentimentos.
Flávia Scavone
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