No início da minha carreira passei muito tempo tentando descobrir porque tanta gente tinha horror a terapia.
Para mim, estar com alguém buscando descobrir detalhes sobre mim mesma era a melhor coisa do mundo. Do outro lado, estar com alguém para tentar compreender como aquela pessoa funciona e porque sente e se comporta de determinada forma, não podia ser uma tarefa mais interessante. Não entendia como alguém podia escolher outra profissão.
Com o passar dos anos fui compreendendo algumas questões.
Terapia é difícil? É, mas somente para quem não quer saber mais sobre si mesmo. E tem um montão de gente que não quer.
O que observo é a dificuldade que temos em encarar as coisas como elas realmente são. E isso acontece principalmente em relação a nossa própria personalidade. Parece que antes de absorvermos a realidade, possuímos um mecanismo que filtra e distorce as coisas de acordo com os nossos desejos e dificuldades.
Como terapeuta, acompanhei muita gente corando ao sacar mais sobre si mesma. Quem já passou por isso sabe a sensação de vergonha ou horror quando percebemos que somos muito diferentes do que imaginávamos.
Quando descobrimos lados da nossa personaldidade que consideramos nobres é tudo de bom, mas quando encaramos sentimentos e pensamentos que consideramos abomináveis, começamos a corar. É essa reprovação que atrasa muitos processos terapêuticos. Quanto mais reprovação, mais resistência em aceitar esse lado como sendo nosso. Quanto mais resistência, menos diálogo e controle com esse lado desagradável.
Com a realidade não é diferente. Assimilar que as coisas não são como imaginamos é sacar que buscávamos algo diferente do que realmente temos nas mãos. Isso pede tempo e paciência para digerir que nem tudo é como queremos.
O desejo é tão importante na nossa cultura que se faz qualquer negócio para satisfazê-lo, inclusive enganar a si mesmo. Não é à toa que falamos frases como "cair na real" com a conotação de que "a verdade dói".
O que muita gente não percebe é que a verdade pode ser muito mais parceira do que inimiga. Diante de uma situação tal como ela realmente é, podemos nos posicionar e fazer algo a respeito. Enquanto nos enganamos, perdemos tempo e não caminhamos para lugar algum, apenas nos relacionamos com a nossa própria imaginação.
Por isso eu sou à favor do dia da mentira. Assim a gente mente bastante no dia 1° Abril, para não cair na tentação de nos enganarmos no resto do ano!
1 de abr. de 2009
Dia da Mentira
Flávia Scavone
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