11 de mar. de 2009

Correndo riscos


Com o passar dos anos pude acompanhar os meus amigos amadurecendo. Entre eles estão o grupo de pais recentes. Uma boa parcela se encontra entre o primeiro e o segundo filho, ainda pequenos. Um grupo de risco
(REGRAS QUE NÃO PÕEM A MESA) .

Antes do primeiro filho veio a primeira gravidez. Antes, ou mais ou menos antes, o primeiro casamento. Teve também a primeira faculdade, a pós graduação. O primeiro emprego e a primeira demissão. E junto a todos esses passos uma grande lista de regras para seguir.

Em toda mídia, a cada dia mais, se proliferam os manuais: como comer, como se relacionar, como criar filhos, como ganhar dinheiro, como ter sucesso, como se divertir. Enfim, como viver.

Sem perceber, fomos colocados no lugar de alunos. Ou melhor, nos colocamos no lugar dos ignorantes, daqueles que não conseguem sequer decidir o que vestir.

O que acontecia na época em que não existiam os manuais?

As pessoas usavam o "instinto", ou seja, conseguiam se guiar pela natureza das coisas. Simples assim. A sabedoria era repassada de geração em geração através do conhecimento adquirido pela experiência, e não pela teoria.

Hoje todos nós temos medo de fazer "errado". Sem limites para a escolha dos modelos de como viver, nos sentimos inseguros em tomar um rumo em prol de outro qualquer e acabar se arrependendo. Esse é o mal dos nossos tempos: podemos tudo e não conseguimos escolher por nada. Isso gera angústia.

É na brecha dessa angústia que muita gente encontrou espaço para escrever como todos nós temos que viver. Assim, quem tem medo encontra amparo em uma lista qualquer.

O serviço que a Psicologia pode prestar está longe do de ditar mais uma grande lista de regras. A Psicologia mostra que existe uma possibilidade de se viver bem: saber o que se quer, sabendo quem se é. Encontrando o desejo legítimo e reconhecendo os próprios limites se vai longe.

A vida continuará de qualquer forma. Parado ou caminhando, estaremos sempre criando um destino. Tendo essa consciência ao menos podemos viver escolhendo os riscos inevitáveis que vamos correr, só pelo fato de acordarmos a cada dia.

Flávia Scavone

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