Inevitável que um psicólogo se sinta forçado a comentar a crise financeira atual. Por mais que o nosso ramo pareça distante do mundo econômico, nós lidamos com pessoas e são elas quem vivem, sentem, participam, são cúmplices ou vítimas da situação atual.
Jorge da Cunha Lima escreveu um texto brilhante na Folha de São Paulo de hoje (FOLHA OPINIÃO) e atentou para o óbvio, mas o nem sempre pensado: o mercado nada mais é do que o resultado do comportamento humano.
Com tudo o que se segue começamos a falar do mercado, do governo e do capitalismo como instâncias independentes e autônomas, deixando de perceber que elas são apenas reflexos de cada um de nós.
Acontece que o capitalismo apenas reproduz o padrão do consumo como forma de satisfação. O que encontramos no nosso organismo, natural da nossa espécie como no processo da alimentação, também pode ser reproduzido para outros campos. Consumir comida satisfaz a fome, e assim o nosso organismo aprende que consumir é uma boa idéia: dá prazer, acalma. No desenvolvimento percebemos que consumir outras coisas também alimenta e preenche vazio.
O ser humano quer, o próprio ser humano oferta. Outros seres humanos convencem de que tudo isso é essencial e inevitável. E o resto dos seres humanos consomem.
Ter que lidar com o vazio ou a insatisfação pessoal não é tarefa fácil, e nem temos treino para isso, por isso o consumo cai como uma luva, passageira, para o desconforto. Essa é apenas uma forma de viver. Mas uma forma de viver que está se demonstrando prejudicial ao corpo, aos relacionamentos e ao planeta.
Talvez seja um bom momento para experimentar uma nova forma de viver a vida!
"Não é a economia que precisa mudar, porque a economia é uma ciência, não é um dogma, nem é o mercado, esse animal com energia própria. O que precisa mudar é o comportamento da sociedade. O comportamento dos políticos e também da mídia, a propor novos desejos, compatíveis com a natureza humana, e não com os humores destrutivos da moda."
Nenhum comentário:
Postar um comentário