9 de dez. de 2008

Vicky Cristina Barcelona

 

Woody Allen surpreende. Vicky Cristina é um filme maravilhoso que nos mostra, através de muito humor, as alegrias, dores, confusões e conflitos presentes no relacionamento humano. Quatro mulheres e quatro homens preenchem o espaço de um enredo que mostra muito, ou quase tudo, dos modelos da nossa época.

Vicky e Cristina fazem um perfeito par de opostos: enquanto a primeira se mostra racionalmente madura, rígida e decidida, enxergamos em Cristina uma mulher imatura e angustiada na busca do "algo mais" que nem ela mesma sabe o que é. Vicky é a mulher que vê no sentimento um obstáculo a ser vencido, já Cristina é o estereótipo da adolescente tardia, buscando uma emoção que dê sentido à sua vida.

Juan, um brilhante sedutor, busca através do seu discurso honesto e da sua pose de artista incompreendido, conseguir o que quer: companhia e inspiração feminina.
Juan é o homem que saca facilmente o inconsciente de uma mulher, arrancando-lhe rapidamente suas mais obscuras fantasias. Para a aparentemente romântica ele usa de praticidade. Para a mocinha fria e contida ele usa a mais piegas das atuações românticas. Consegue assim desestruturar toda a vida planejada de Vicky, enquanto se sente muito especial ao lado da "sem talentos" Cristina.

Maria Elena, sua ex mulher, artista enlouquecida e suicida, aparece no meio do filme e encontra em Cristina o fator que faltava na sua relação "quase" perfeita com Juan. Esses três viverão um triângulo amoroso enquanto Vicky amargura uma paixão sufocada pelo casamento modelo.

No desenrolar da trama observamos mulheres insatisfeitas com a própria vida, angustiadas com a sua condição, e enlouquecidas por relações de uso. Todas elas se encontram presas a idéias de como as coisas deveriam ser, mas estão longe de conseguir lidar com o próprio sentimento. Vicky está no casamento padrão, escolhido pela praticidade e convenção, Cristina, quer usufruir de toda a experiência que Juan e Maria Elena podem passar, Judy não quer abrir mão do conforto e segurança que possui ao lado do marido e Maria Elena sofre. Sofre por ser uma mulher sensível que percebe o uso que o ex marido faz dela, roubando-lhe o talento e a inspiração.

E os homens? Os homens vivem como querem viver. Mais objetivos e diretos, sabem o que querem e buscam exatamente isso. Mesmo de uma forma perversa como Juan ou às custas de muita negação, como fazem Mark e Doug, seguem da forma como planejaram.

E no fim, algo é compreendido ou transformado? Parece que não. Juan e Maria Elena são deixados entre os seus conflitos conhecidos. Vicky segue com o marido para a sua casa perfeita e sua vida padrão. E Cristina? Cristina vai embora da mesma forma que chegou, buscando algo que não sabe o que é, mas que ao menos já sabe o que não é.

Quem saiu perdendo foi o sentimento.

Flávia Scavone

3 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Olha... eu sempre tento ler uma resenha de um filme, mas é muito chato e vem cheia de preconceitos do autor; obviamente que isso não é o objetivo aqui, mas eu nunca vi alguém sintetizar o que foi este filme. Deu até vontade de ver novamente. Foi um filme excelente; mas companhia, olha, esta foi sensacional. Bjos, Má.

MaryKu disse...

Eu finalmente vi o filme e lembrei dos nosos paos...Brilhante, o filme, brilhante seu post. É essa a sensação que fica de 2008, um ano vick cristina porque é ainda mais dificil se ser as duas ao mesmo tempo, onde tudo acaba como termina e os sentimentos ficam lá na conta dos "perdidos" não executáveis....
Beijocas!
Mari