24 de jun. de 2009

Sobre o amor


Uma vez ouvi de um colega que os seres humanos são todos iguais: "a humanidade muda muito pouco - dizia ele - é só observar a mitologia grega por exemplo: 3 mil anos se passaram e os conflitos são exatamente os mesmos."

No filme ROMANCE de Guel Arraes, as personagens cercam-se das grandes histórias de amor, buscando encontrar uma fórmula viável de amar. Entre o amor mitológico e a rotina diária há tamanho abismo que fica difícil acreditar ser possível dar continuidade a um grande amor.

Na faculdade aprendíamos sobre o amor platônico e o amor real. O amor platônico seria aquele amor idealizado, romântico, que como em "Tristão e Isolda" é transbordante de belo por ser, justamente, impossível. Quanto mais longe da realidade, mais belo seria, e justamente seria belo, por estar bem longe do real.

Já o amor real seria o amor maduro. Longe da paixão, ele seria aquele onde não existiria projeção, onde o outro seria ele mesmo e não um amontoado de desejos e idealizações. Esse, talvez teria chances de dar certo, afinal, nenhuma relação dá conta de fazer alguém feliz...muita responsabilidade para uma relação só.

Existirá mesmo essa relação tão isenta de expectativas, projeções e ideais?

Para Jung a projeção não era algo tão ruim assim. Podia ser um mecanismo de defesa mas era também um caminho, uma forma de enxergar através do outro algo que não consigo visualizar em mim. A projeção seria, antes de tudo, uma possibilidade.

E se o amor fosse um caminho, um caminho de reencontro com os nossos próprios lados? E se o desejo, a atração, o arrepio, a saudade fossem justamente sinais do meu organismo procurando no outro algo que me faz falta?

Certos lados nunca seriam revelados se não tivessem existido certas relações. Diversas experiências jamais seriam adquiridas se estivéssemos sozinhos. Em cada relação encontramos, através de alguém e junto com o outro, um mundo novo.

E isso só será paixão se houver dor, afinal "paixão" significa "sofrimento". E talvez não exista mais dor se houver compreensão do movimento: de que estou buscando o outro justamente para chegar em mim, para que me reencontre com lados que jamais conheci e por isso só os reconheço em uma outra face.

E quando me reencontrar posso estar ao lado, assim mesmo, apenas estando. Porque agora sou inteiro e sou grato ao encontro que aqui me trouxe.

Ana e Pedro precisaram viver o amor ideal através das grandes histórias, e cada um em seu momento pôde fazer o contrapeso, trazendo o outro à realidade onde o amor se encontrava nos pequenos atos de cuidado, de respeito e de desapego. Conseguiram assim construir a sua história, onde inventaram a sua própria fórmula do que faz ficar junto. Com coragem, muita coragem, para experimentar.

Flávia Scavone

Um comentário:

Silvia disse...

Parabéns, parabéns, parabéns!!! muito inteligente, lindo! adorei, me tocou, vc sabe!