7 de dez. de 2009

Em busca do caminho mais fácil

 

O psicanalista belga Jean Pierre Lebrun (ENSINEM OS FILHOS A FALHAR) diz que aprender a lidar com o insucesso é fundamental para livrar-se de apuros na vida adulta e sugere que os pais ensinem os filhos a falhar.

De maneira bem simples, sem grandes e complicadas interpretações psicológicas, Lebrun explica que viver a vida exige suportar momentos de desconforto e que quando não somos treinados para isso, tendemos a buscar formas de aliviar o sofrimento.

Lebrun fala das drogas mas encontramos diversas formas de evitar a realidade quando ela é considerada dolorosa. A compulsão alimentar é apenas mais uma delas.

Ao comer demais a pessoa consegue modificar o foco do conflito para a comida e, a longo prazo, culpar o excesso de peso por todas as suas dificuldades e sofrimentos.

Tanto no consultório como na vida observo como gastamos um montão de energia tentando evitar o desconforto. Estamos sempre a procura do caminho mais fácil. Nesse percurso perdemos muito tempo tentando evitar o inevitável: não há como passar por essa vida sem suportar alguns dissabores.

No processo de emagrecimento, tanto nos tratamentos clínicos como nos cirúrgicos, encontramos casos de sucesso e casos de insucesso. O que diferencia a pessoa que consegue ter sucesso da outra que não? Diversas pesquisas vêm buscando compreender as variáveis relacionadas aos resultados dos tratamentos. A minha pesquisa de mestrado ainda não está terminada mas já consigo observar algumas diferenças entre as pessoas que tiveram ou não sucesso após a Banda Gástrica e essa diferença está na atitude.

As pessoas que tiveram bons resultados compreenderam, de diversas formas, que não existe forma de perder ou manter o peso sem suportar um certo desconforto por não comer tudo o que têm vontade. Elas aprenderam que na vida a gente não tem tudo o que quer, simples assim. As pessoas com maus resultados continuam culpando a Banda Gástrica pelo seu insucesso e insistem em buscar um novo método de emagrecimento. Essas pessoas ainda não conseguiram perceber que a potência para a transformação está dentro de cada uma de nós e não no tratamento que escolheram para emagrecer.

Nilton Bonder em "A Alma Imoral" fala do "curto caminho longo" e do "longo caminho curto" mostrando que no nosso anseio pelo caminho mais fácil muitas vezes aumentamos em muito o nosso percurso rumo ao que precisamos.

Quando os pais conseguem ensinar os filhos que o sofrimento, a frustração e a derrota fazem parte da vida, conseguem prepará-los para a realidade como ela é, evitando que eles cresçam gastando o seu tempo e a sua energia inventando formas de evitar a vida.


Flávia Scavone

2 comentários:

Unknown disse...

Meus problemas de saúde hoje foram agravados, por minhas próprias atitudes em relação a certas situações. Quando finalmente me curei delas, percebi que havia adoecido.
A decisão de fazer a cirurgia levou 10 anos, não busquei o caminho "mais fácil", pois não tenho compulsão alimentar, e achei que a cirurgia era para pessoas que não sabiam como parar de comer demais. Como não é meu caso, levei 10 anos tentando um longo caminho que não deu resultado.
Quando decidi fazer a cirurgia, fiquei triste ao ouvir um médico me dizer que o obeso só tem prazer na comida e todos os outros prazeres ficaram eclipsados. Foi como me colocar numa caixa com um monte de gente diferente de mim. Meus prazeres principais na vida são viajar, fazer sexo e ler, não necessariamente nesta ordem, e a alimentação fica no meio disso. Coisa comum de acontecer é quando viajo, ou estou lendo, esquecer do horário do almoço ou do jantar pois me sacio de outras formas. Assim, acho que a cirurgia será um sucesso pra mim, pois poderei retomar meus outros prazeres abandonados, como ir me bronzear na praia, entrar numa boutique fina e comprar um tamanho de ser humano normal, entrar nas minhas roupas de esquiar para fazer isso de novo, correr 6 km por dia como fazia há 10 anos. Nadar. Voltar a escalar Picos com meu amor (o último foi o Pico da Bandeira com 2900m). Vê, não estou nem um pouco preocupada, nem um pouco mesmo! com o que vou comer depois. Comida NUNCA foi minha prioridade de vida; com todo o respeito a um 'dr', mas, o senhor está errado no meu caso, porém já lhe perdoei pq este é um erro muito comum.
Minha prioridade é continuar me alimentando de forma saudável, me exercitando, vivendo muito pois há muito pra viver e coisas pra fazer e eu estou só vendo a vida passar. Desconfortos? Passei 10 anos me acostumando a sentir fome e não comer tudo que quero, e continuei obesa, assim, estarei com o bonus de fazer isso e estar magra e saudável. Qualquer desconforto valerá demais a pena.
Não busco o caminho mais fácil, busco o mais inteligente que me dê uma vida mais longa e de qualidade, junto a um marido que me adora e admira mesmo assim.

Flávia Scavone disse...

Raquel, depois de muitos anos trabalhando com cirurgia bariátrica acompanhei algumas pessoas que tinham dificuldade para perder peso mesmo depois do estômago reduzido. O que muita gente não entende é que todo comportamento que é difícil de mudar tem um papel no nosso equilíbrio. Por mais estranho que pareça o comer demais também é importante para a pessoa que vai operar, senão ela teria conseguido modificar esse comportamento ao longo dos anos. Buscar o caminho mais fácil não é buscar a cirurgia mas depositar na cirurgia toda a responsabilidade pela transformação da própria vida. Quanto mais consciente a pessoa estiver, melhor ela irá se adaptar.
Boa Sorte!