Quando falamos em transformação da personalidade é difícil para quem não está familiarizado com esse tipo de processo compreender os desafios de trilhar um caminho de mudança.
Poucas pessoas compreendem como a psique funciona e por isso esperam de um processo de transformação algo diferente do que experimentam.
Pela psique ser encarada como algo abstrato e intangível, tendemos a achar que ela funciona de forma diferente do resto do nosso organismo. Mas isso não é verdade. A psique faz parte do nosso organismo e funciona exatamente como todo o resto. Assim como corpo, a psique possui uma estrutura, e nela há um equilíbrio. Essa estrutura funciona de um determinado modo, por diversos fatores, e mesmo que cause dificuldades na nossa adaptação ao mundo ela está em equilíbrio. Pode ser um equilíbrio estranho, mas ainda assim é um equilíbrio.
Transformar significa mexer em um sistema que, até agora, está acostumado a funcionar de uma determinada forma e por isso, causa desconforto.
Costumo comparar o sistema psicológico ao postural. Quando sentimos dor nas costas isso acontece em consequência de como estamos nos posicionando. Se a postura causa dor, seria lógico que ao nos "endireitarmos" a dor passasse. Mas não é isso que acontece. Se "endireitar" dói. Dói porque não estamos acostumados com a postura nova , a musculatura exigida para sustentar essa nova posição ainda é frágil pois não era utilizada. Para conseguirmos modificar nossa postura precisamos fortalecer uma série de outras estruturas e mesmo assim, por um bom tempo, se relaxarmos, a antiga postura volta a tomar conta, porque é ela a mais forte por fazer parte do hábito mais antigo.
Assim, exatamente assim, funciona a psique. Como o organismo, ela se acomoda em certas posições e se ressente quando precisa se reajustar. E ela também dói, avisando que algo naquele sistema já não funciona mais e precisa ser revisto.
A dor deve ser observada como parte de um processo natural que ora pode funcionar como aviso, ora como exercício. Um momento de crise não deve ser encarado como algo a ser evitado mas sim como uma oportunidade para rever a nossa posição diante da vida.
24 de nov. de 2008
Mudar dói
Flávia Scavone
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