16 de mar. de 2009

Desenrolando a terapia

 

Há tanto tempo na área, cercada de tanta gente que faz terapia, me esqueço da quantidade de pessoas que não compreendem como a Psicologia funciona. Aliás, essa foi a intenção quando montei esse blog: falar de psicologia de uma forma bem simples.

Vamos falar de terapia.

Andei me surpreendendo com olhos arregalados depois de alguns comentários que faço sobre certas situações. Não são os olhos arregalados de quem está observando, mas sim daqueles "você tem poderes sobrenaturais!".

Não, definitivamente não tenho. E pelo que saiba, até agora, nenhum terapeuta tem. Mas realmente aprendemos e estamos treinados a observar a vida de uma outra forma.

Quer entender como compreendemos as situações?

O primeiro passo é entender o que chamamos de inconsciente. Ao invés de pensar no inconsciente como um local, pense nele como um estado. Estamos inconscientes quando não percebemos algo. Porém, esse algo não deixa de existir apenas pelo fato de não nos darmos conta dele.

Esse foi o grande avanço científico proporcionado pela Psicologia do início do século passado: mostrar que nossa consciência é limitada e que vários aspectos de nós mesmos e da realidade nos escapam.

Como descobrir mais sobre o que não estamos enxergando?

Emoções e contradições.

Os lados da nossa personalidade que desconhecemos são como "personagens" que tomam conta das nossas ações. Eles são os complexos. Todo mundo já experimentou a sensação de ser possuído por uma emoção qualquer. Toda vez que algum tema tende a nos despertar reações emocionais desproporcionais ele está ligado a algo inconsciente. Os complexos nos fazem perder o controle e são como lentes embaçadas que atrapalham a visão.

Os lacanianos falam do desejo e da demanda. A demanda é o que falamos que queremos. O desejo é o que realmente queremos, aquilo que nossa ação busca. Observar a contradição entre o discurso e a atitude é a forma mais eficaz de se conhecer alguém. Quando falamos algo e fazemos o inverso estamos em conflito sem nos darmos conta porque provavelmente estamos sofrendo influências de um complexo. É nesse momento que o terapeuta entra para ajudar.

O papel do terapeuta é flagrar essa contradição para que a pessoa possa se dar conta dos lados dela que não caminham de acordo com seu discurso. Só assim ela vai conseguir se transformar ou...se assumir com mais facilidade.

A Psicologia não enxerga as pessoas como vítimas do mundo, mas como vítimas dos lados de si mesmas que desconhecem. Quanto mais inconsciência, menos liberdade.

Flávia Scavone

2 comentários:

Amigo disse...

Ola Flavia, gostaria de parabeniza-la por seu trabalho. Seus artigos são ótimos, continue assim.
Um abraço

elcp disse...

Muito bom seus textos, Flávia !
Parabéns !
Grato,
um abraço,
Alxdr