31 de out. de 2008

Palestra hospital São Luiz AF - 01/11/08 - Parte I -Obesidade

 


Como a Psicologia pode ajudar?

A maioria dos tratamentos para emagrecer não tem sucesso porque o paciente não consegue modificar o seu comportamento
O que estaria por trás dos comportamentos compulsivos?

Um pouco de história pode nos ajudar a compreender como a Psicologia Analítica explicaria essa dinâmica

Estudos de Breur e Freud (1880) sobre os efeitos da repressão demonstravam que depressão e sintomas físicos (histeria) que não podiam ser explicados, poderiam desaparecer após recordação de eventos traumáticos. Os sintomas seriam conexões simbólicas com recordações dolorosas, que poderiam ser tratados através da hipnose ou da terapia da fala.

Jung (1906), com o objetivo de verificar se essas zonas perturbadas da psique poderiam ser mapeadas, realizou uma pesquisa, durante 5 anos, aplicando em seus pacientes o Teste de Associação de Palavras. Esse procedimento, muito conhecido naquela época, consistia na associação livre e espontânea do paciente a partir de palavra estímulo. As respostas do paciente eram anotadas, bem como o seu tempo de reação, respiração e sudorese. Jung percebeu que as palavras causadoras de maiores reações orgânicas eram aquelas que estavam relacionadas com as áreas perturbadas da personalidade.

Assim, instaura-se uma nova forma de olhar o mundo: muitas reações do organismo poderiam ser explicadas pela atuação de aspectos desconhecidos da personalidade. Nesse momento histórico, foi introduzido na ciência a idéia do inconsciente: lados da personalidade que desconhecemos mas que nem por isso deixam de nos afetar diretamente.

À essas zonas de perturbação psíquica Jung deu o nome de complexo. O complexo seria um aglomerado de idéias, memórias e grande carga emocional que atuaria a partir de estímulos externos ou internos, subjugando a vontade do ego. Sua atuação seria pautada pelo automatismo e pela compulsividade.

Quanto mais relegados ao inconsciente, maior carga psíquica teriam os complexos.

Seriam como feridas psicológicas que quando estimuladas produziriam reações impulsivas e descontroladas .

Onde há a atuação do complexo desaparece a vontade do ego.

Esses complexos seriam basicamente formados por material psicológico dissociado da consciência, ou por eventos traumáticos, ou por conflitos morais, já que certas características da personalidade não são aceitas pela sociedade.

Essas parcelas reprimidas da personalidade tenderiam então a reaparecer através de comportamentos compulsivos ou sintomas corporais.

A obesidade, mais especificamente o comportamento do comer compulsivo teria então um significado psicológico: seria a expressão de conflitos inconscientes.

Como a psique fala através de símbolos, as sensações, os sintomas e as fantasias deveriam ser compreendidos como metáforas de uma realidade psicológica. A fome, o vazio, o desconforto que um dia podem ter sido interpretados como sendo do corpo, provavelmente têm o seu lugar no campo existencial. Existem diversos estudos demonstrando uma relação entre a alexitimia e a compulsão alimentar. Alexitimia seria uma condição onde o indivíduo teria dificuldade em reconhecer e verbalizar sentimentos (ver Borges, MB. et al. 2002 ; Fernandes,N. e Tomé, R. 2001; Legorreta, G.et al. 1988 ; Pinaquy,S. et al. 2003). Crianças que não são treinadas para reconhecer sentimentos tendem a interpretar qualquer desconforto como físico(ver Baldaro, 2003) procurando solucioná-lo fisicamente. Como a comida promove um certo alívio, esse comportamento seria reforçado tornando-se um hábito: uma maneira de lidar com a vida.

Breur, Freud, Jung entre outros pesquisadores do século passado foram descobrindo que trazer esses aspectos desconhecidos para a consciência poderia transformar os sintomas e os comportamentos.

Esse seria então o maior objetivo da Psicoterapia: criar um ambiente de reflexão, através da observação, do diálogo e da interpretação de símbolos visando a ampliação da consciência e, consequentemente a transformação da personalidade.

No caso da obesidade, precisaríamos num primeiro momento auxiliar o paciente a reconhecer o seu sistema de funcionamento, compreendendo como, onde e para quê ele foi instalado durante a sua história de vida.

Num segundo momento, o paciente precisaria escolher mudar, afinal, essa forma de viver tem as suas vantagens, e elas precisarão ser abandonadas para que se crie algo novo

O terceiro momento seria aquele onde auxiliaríamos o paciente a desenvolver novas habilidades para lidar com a realidade de uma outra forma. No caso da obesidade, o nosso maior foco seria o desenvolvimento da habilidade de discriminação de sentimentos, possibilitando a compreensão de manifestações psicológicas.

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