19 de mar. de 2009

Yes, man!

 

Não tenho nada contra o Jim Carrey. Muito menos contra comédias românticas. De verdade. Mesmo assim o filme "Sim, senhor" não estava na minha lista dos que "valem ser vistos no cinema". Porém, ilhada no bairro do Tatuapé após a tempestade que alagou nossa cidade na última terça feira e diante da restrita lista no caixa do cinema que me abrigou, não tive outra opção a não ser dizer sim.

Quem nunca sofreu após uma desilusão amorosa? Quem, depois dessa desilusão, nunca duvidou da própria capacidade de se encantar novamente pela vida? E quem nunca fugiu por medo de sofrer de novo?

É assim que está Carl no início do filme: solitário, entediado, fugindo de qualquer novidade que possa modificar sua rotina. Preso no passado ele resiste em seguir adiante.

Ao participar de uma palestra de auto ajuda que tem como objetivo estimular as pessoas a dizerem "sim", Carl se propõe a responder afirmativamente diante de qualquer proposta que lhe for feita. Daí em diante, ele inicia uma série de novas experiências que acabam lhe mostrando um jeito completamente diferente de viver a vida.

Mas o que o faz mudar radicalmente?

Medo. Medo de morrer sozinho.

Muitas vezes nos encontramos acomodados em situações que estão muito aquém dos nossos limites e que nos oferecem muito pouco, apenas por medo de experimentar aquela sensação ruim que acompanhou os nossos momentos de decepção.

Porém, da mesma forma que o medo paralisa, ele movimenta.

No texto "A Planície e o Abismo" de Rubem Alves o viajante deve subir a montanha para, enfrentando o abismo e seus desafios, lembrar-se de que a vida não é apenas como a planície: confortável e linear. Harold Crick, no filme "Mais estranho que a ficção", consegue romper com a sua vida milimetricamente planejada apenas quando descobre que, como personagem de um livro, pode morrer se a autora do texto assim desejar.

Parece que a morte nos presta esse serviço. Por mais temida que seja, ela está lá como o abismo a nos lembrar da finitude. Por mais dramático que pareça, apenas essa lembrança nos faz valorizar o que passa batido quando estamos imersos na rotina do dia a dia.

Carl, ao dizer sim para tudo, saca quantas possibilidades existem na vida e que, por comodismo ou medo, perdemos uma boa parcela delas a cada dia.

Precisa forçar um pouquinho para vencer o medo?

Precisa.

Diante de um padrão é assim: o organismo acostumado sofre para mudar e resiste buscando voltar à posição anterior. Mas logo em seguida ele pode experimentar o reforço de um novo comportamento e se adaptar. Assim como no filme, um pequeno empurrão pode iniciar um movimento que se auto alimentará e quando nos dermos conta... já aprendemos a viver de uma outra forma.

Por isso esse post é dedicado aos que têm medo da vida, mas que, bem lá no fundo, sentem muito mais medo é da morte. Ainda bem!

Flávia Scavone

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